Estimado irmão no Episcopado, Dom Antônio Augusto, queridos irmãos no sacerdócio, no Sacramento da Ordem, padres e diáconos, uma saudação especial ao Pe. Fábio e toda família da Opus Dei, também queridos irmãos (as) no Sacramento do Batismo.
Aqui estamos para agradecer. Manifestar nossa gratidão pela vida e vocação de Dom Rafael, nosso terceiro Bispo Diocesano. A palavra é essa: gratidão! Por tudo o que ele fez nesse serviço tão frutuoso na Igreja, pelo Reino de Deus.
Vejam, a Primeira Leitura de hoje (2Cor 10,17–11,2), Paulo diz à comunidade dos Coríntios: ‘Na verdade, sinto por vós um amor ciumento semelhante ao amor que Deus vos tem. Fui eu que vos desposei a um único esposo’. Paulo está falando da sua paternidade pastoral e espiritual. Hoje um tema muito forte para nós ministros e consagrados precisamos cultivar essa paternidade pastoral e espiritual.
Hoje fala-se também muito no ministério generativo, que gera, gera filhos para a Igreja. Pela evangelização levar pessoas ao encontro pessoal com Jesus. O Papa Francisco também diz que o nosso ministério tem que ser fecundo. Não temos filhos biológicos, mas o nosso ministério tem que ser fecundo. Sem a fecundidade no ministério nos tornamos tristes. Segundo o Papa, a razão da tristeza está na falta de fecundidade. Isso é muito forte! Nosso ministério tem que ser generativo. E a falta de fecundidade está justamente no abandono do primeiro amor, do esposo. Quando a gente se afasta do esposo, nos tornamos estéreis. Podemos produzir muito barulho, conflito, mas não geramos filhos para a Igreja, para o Reino, para a salvação.
Estou dizendo isto porque Dom Rafael foi extremamente fecundo. Vocês o conheceram melhor do que eu. Seu ministério pastoral e episcopal foi generativo. É interessante que nós no início de julho, na nossa Assembleia Diocesana, definimos quatro prioridades: família, juventude, formação e missão. Tudo isso encontramos em Dom Rafael. Como foi dito na biografia dele, Dom Rafael tinha um profundo amor às famílias, à Pastoral Familiar, um profundo amor à juventude, um profundo amor à formação, à produção intelectual de Dom Rafael, quantos livros! E também um missionário que vem do México, vem da Espanha para nos servir. Isso é ser generativo!
A Primeira Leitura não foi mudada da festa de hoje de Santa Rosa de Lima. ‘Sinto por vós um amor ciumento’. Dom Rafael nos amou, amou a Igreja, a Diocese, amou o que fazia, porque em primeiro lugar amou a Cristo e se sentia amado por Ele. ‘Fui eu que vos desposei a um único esposo, apresentando-vos a Cristo’.
Aqui tem um texto que uso nos retiros, Dom Rafael falando sobre o primeiro amor, ele cita um filósofo - Kierkegaard, o primeiro filósofo existencialista. Esse filósofo conta a história de um homem europeu que viajando para o oriente conheceu uma moça chinesa pela qual se apaixonou, mas não podia conversar com ela. Naquele período aprender o mandarim, o chinês, era muito difícil, hoje é fácil. Não conhecia a língua e não podia escrever nem receber suas cartas.
Voltando ao seu país, decidiu aprender chinês para se comunicar com sua amada. Após muitas dificuldades, encontrou onde aprender uma língua tão difícil. Graças a um grande empenho pôde escrever sua primeira carta apaixonada em chinês. Mergulhou depois no estudo da língua. Tanto se esforçou que se tornou um eminente sinólogo, convidado a dar conferências no mundo inteiro sobre a língua e a cultura chinesas.
No começo ele não deixava de escrever para sua amada e dela recebia apaixonadas respostas. Depois, porém, suas viagens e compromissos se tornaram tão frequentes que não mais encontrava tempo para mandar as suas cartas. Da outra parte, ela não sabia para onde enviar a correspondência. O objeto do seu grande amor não tinha residência física. E aconteceu a mais absurda incongruência: nosso homem acabou sendo um tão importante conhecedor da língua chinesa, que esqueceu a mulher pela qual tinha aprendido chinês.
Risco que todos nós corremos: bispos, padres, leigos e leigas, quantas vezes abandonamos O esposo, O primeiro amor. E continua agora Dom Rafael. ‘Essa história que parece ser real é, ao mesmo tempo, uma parábola a cada um de nós, que também corremos o risco de esquecer a chinesa pela qual nos apaixonamos. Isto é, o nosso ideal de vida, a nossa vocação humana e divina, o empreendimento com o qual generosamente nos comprometemos, desviados por uma tarefa que era apenas um meio ou instrumento, como a língua chinesa, para conseguir o grande fim pelo qual nos apaixonamos’.
Acho que este texto de Dom Rafael tem tudo a ver com a Primeira Leitura de hoje e o Evangelho também que fala do tesouro e da pedra preciosa. Dom Rafael encontrou o tesouro, encontrou a pedra. É um encontro pessoal com Jesus, nosso primeiro amor. E ele transparecia este encontro e levava os demais a fazer este mesmo encontro. Este tesouro e esta pedra preciosa está acessível a todos: é Jesus Cristo, seu Reino! Tudo nos foi dado para que pudéssemos encontrar o tesouro e a pedra. E abrir mão de muitas coisas, dos nossos próprios interesses, projetos pessoais em vista desse tesouro e dessa pedra preciosa.
O Absoluto tem que ser Deus, tem que ser Jesus, tem que ser o Reino. Todo o resto é relativo. Só que confundimos o relativo com o Absoluto. O acidental com o substancial. Quantas vezes deixamos de lado o primeiro amor, que é Jesus, seu projeto de amor de vida, misericórdia e salvação, para seguir pessoas, seguir outras propostas, nos esquecendo do primeiro amor. Isso acontece e pode acontecer com todos nós. Estejamos atentos e vigilantes. Nada, absolutamente nada poderá nos separar do amor de Deus. Por isso Paulo diz: eu tenho por vocês um amor ciumento. Deus não quer perder ninguém para ideologias ou projetos contrários ao seu projeto de amor.
Vejam esse homem europeu, se deixou contaminar com tantas coisas: pelo poder, pela vaidade, presunção e esqueceu o motivo pelo qual aprendeu uma língua, era para se comunicar, e o amor tem a necessidade de se comunicar. O amor é comunicação. Então corremos esse risco.
Dom Rafael que foi tão fiel a esse tesouro, a essa pedra preciosa, a esse primeiro amor, que demonstrava isso no seu modo de ser com humildade, com simplicidade, homem desapegado, que nos deixou um legado de paternidade pastoral e espiritual, um legado intelectual de reflexão, para que a gente jamais transforme o Absoluto em relativo. O Absoluto é Deus. Que esta cerimônia de hoje e de amanhã, que tudo isso que nós fizemos com tanto amor, com simplicidade e respeito, que tudo isso traga bons frutos para nós, nos aproxime de Jesus, e não deixe que nada, nada, ocupe o lugar Dele em nossa vida. Ele é o primeiro amor!
Termino saudando Nossa Senhora, ele era tão devoto de Nossa Senhora de Guadalupe, agradecendo a presença materna de Maria na vida dele, na nossa vida, na vida da Igreja, para que sejamos pessoas generativas, fecundas, produzir vida, jamais morte; produzir amor, jamais ódio; produzir unidade, jamais divisão; isso é ser generativo o contrário é ser degenerativo. Degenerativo é perder as características originais de algo. Não podemos ser degenerativos, por isso precisamos da intercessão de Nossa Senhora, la Guadalupana, Nossa Senhora da Conceição, nossa Padroeira, celebramos a sua Assunção, a sua Páscoa, celebramos a vitória da Vida sobre a morte e, justamente, vivenciando ainda as alegrias da Assunção de Maria, amanhã depositaremos os restos mortais de Dom Rafael no lugar que ele mesmo preparou.
Jesus disse: ‘não fique perturbado o vosso coração, na casa de meu Pai há muitas moradas, Eu vou preparar um lugar para vocês. Dom Rafael já ocupou o lugar dele junto de Deus, de Nossa Senhora. Mas antes de voltar para a Casa do Pai ele preparou o seu lugar aqui, no nosso Seminário, na nossa Diocese. Sinal de pertença, de amor. Estamos no Ano Vocacional, no Mês Vocacional, ele construiu o nosso Seminário com pessoas que aqui estão e colaboraram com ele. Então como é bom saber que temos um lugar preparado para nós e ele preparou um lugar no qual ele amanhã será depositado.
Temos tanta dificuldade de pensar na Irmã Morte. Dom Rafael preparou seu próprio túmulo, num lugar privilegiado é lógico: no Seminário, entre o Sacrário e o altar! Porque São Josemaria Escrivá disse a ele na ordenação: você vai ser um tapete para que outras pessoas possam pisar em você, é necessário que Ele cresça e eu diminua. Isso é ser generativo! E sobre o túmulo dele vamos pisar todos os dias celebrando o sacrifício de Jesus Cristo.
Gratidão pela presença. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!