Senhores Bispos,
Irmãos Padres, diáconos, religiosos e religiosas.
seminaristas, leigas consagradas.
Autoridades civis aqui presentes
e querido Povo de Deus.
24 de agosto de 2023: sem dúvida, essa data reserva um importantíssimo acontecimento histórico para a Diocese de Nova Friburgo, pois num único dia estão reunidos os nomes de quatro dos nossos grandes bispos: recordamos nesse dia os 12 anos da páscoa definitiva de Dom Clemente (nosso primeiro bispo), onde, numa missa sob a presidência de Dom Alano (nosso segundo bispo), são sepultados nesse presbitério os restos mortais do grande Dom Rafael Llano Cifuentes. Tudo isso por iniciativa de nosso atual pastor, Dom Luiz Antônio. Desde já agradecemos a Deus pelo ministério de Dom Luiz a frente de nossa Igreja Particular.
Hoje devo falar em nome do clero diocesano de Nova Friburgo, mas, com a licença de todos, quero falar também como testemunha ocular da história. Me lembro da primeira visita oficial de Dom Rafael ao Seminário, ainda localizado em Duas Pedras, em 28 de maio de 2004. Foi antes de sua posse canônica na Diocese. No almoço, ele nos chamou a atenção pois a mesa preparada para ele estava com uma toalha e as outras não. Disse que, da próxima vez, queria que todas as mesas tivessem com toalha ou que a dele estivem sem, pois o que não servia para o bispo igualmente não servia para os seminaristas. Foi naquela mesma visita que ele expressou, pela primeira vez, o desejo de construir um novo prédio para o Seminário; desejo esse que foi anunciado publicamente na homilia de sua posse. Na época, nem eu e nem os outros seminaristas achávamos que habitaríamos um dia nessa casa, pois sua construção provavelmente levaria muitos anos.
O que não considerávamos era o fato de Dom Rafael ser um homem de muita oração, grande devoção por Nossa Senhora de Guadalupe e cheio de iniciativas. Eu, e tantos outros aqui presentes, vimos desde a Pedra Fundamental até a grande inauguração; da primeira missa (ainda celebrada na sala de estar) até a Dedicação da Capela. Ele sempre afirmava que o Seminário não deveria ser visto como um hotel, um quartel, um convento ou um Mosteiro, mas que deveria ser uma casa de família.
Eu sei que Dom Rafael é muito lembrado pela construção desse belo prédio, mas não é tudo. Ele mudou a mentalidade da Diocese, mostrando que era possível transformar sonhos em realidade através da fé. Após a construção do Seminário, vários padres, seguindo o exemplo do Bispo, tiveram a iniciativa de promover obras em diversas Paróquias. O trato com os seminaristas também mudou. Dom Rafael fazia questão que os seminaristas usassem todos os dias guardanapo de pano (não de papel), afirmando estes deveriam ser tratados como senhores e não como “senhoritos”. Eu interpreto essa atitude como quem diz: aqueles que estão felizes com a própria vocação, sabem tratar bem o povo de Deus.
Por causa de sua idade, o tempo de pastoreio de Dom Rafael em Nova Friburgo seria naturalmente curto, mas ele plantou sementes que hoje frutificam. Assim é a vida da Igreja. O Apóstolo São Paulo afirma: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fazia crescer (1 Cor 3,6). Dom Clemente empenhou-se diversas vezes para implantar o Seminário em nossa Diocese, como nos primórdios lá em Lumiar. Dom Alano, além de implantar o Seminário em Duas Pedras, também comprou esse terreno, cujo inauguração do novo prédio aconteceu em agosto de 2006. Quantos que aqui moraram já foram ordenados por Dom Edney e por Dom Luiz! Manter essa casa funcionando é uma obrigação de toda a Diocese, pois não é apenas zelar pela memória de Dom Rafael, mas também é pensar no presente e no futuro de nossas Paróquias.
A exumação do corpo de Dom Rafael aconteceu anteontem, providencialmente no dia em se celebra a Memória de Nossa Senhora Rainha. Eu e mais dois padres tivemos a alegria de celebrar, nesse mesmo dia, a missa na sala de minha casa com a presença dos restos mortais de um bispo que era profundamente mariano. Também foi maravilhoso poder presenciar a chegada na Catedral na tarde de ontem, festa de Santa Rosa de Lima (uma dominicana como Dom Alano) e que, junto com a Virgem de Guadalupe, é Padroeira da América Latina. Hoje, dia de São Barnabé, onde 12 anos atrás Dom Clemente fez sua páscoa e dentro do mês e do ano vocacional, o sonho de nosso terceiro bispo se torna realidade.
Era o desejo de Dom Rafael ser sepultado aqui. Mas, por que exatamente embaixo do sacrário? Quando Dom Rafael foi ordenado presbítero, após a cerimônia, escutou de São Josemaria Escrivá a célebre frase: “Tu te ordenas para ser tapete, para que os outros possam pisar macio”; frase repetida em tantas ordenações presididas por Ele em nossa Diocese. Que fique esse exemplo para nós todos: não somos o ponto de chegada, mas apenas um caminho para que as pessoas cheguem até Cristo.
Mais uma vez queremos louvar a Deus e agradecer a Dom Luiz Antônio por essa feliz iniciativa que, com certeza, foi seguindo as inspirações do Espírito Santo. O livro do Eclesiastes diz: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” (Ecl 3,1). E eu completo dizendo que Deus não atrasa e nem adianta; Ele chega na hora certa. O momento desse sepultamento, nos planos de Deus, estava reservado para hoje. E esse dia feliz chegou. Enfim, o desejo de Dom Rafael se torna realidade. Agora, saibamos novamente aguardar o tempo de Deus para os próximos passos. Ainda queremos viver para ver chegar o dia em que Dom Rafael será elevado às honras dos altares. Eu não tenho dúvida nenhuma: o homem que me ordenou é com certeza SANTO, UM GRANDE SANTO.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
Pe. Marcus Vinícius Moreira Falcão