“Quaresma é tempo de faxina anual”. Esta expressão de Anselm Grün marcou a Missa da Quarta-feira de Cinzas, realizada na noite de 22 de fevereiro, na Catedral Diocesana São João Batista, em Nova Friburgo. Na cerimônia que abre a Quaresma, o Bispo Diocesano de Nova Friburgo, Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, recordou que nestes 40 dias “teremos um longo tempo para colocar ordem na nossa casa, e a nossa casa somos nós”.
“Vamos aproveitar bem esse tempo, que começa hoje, para que possamos chegar ao Domingo de Páscoa renovados, transformados, convertidos, restaurados. É isso que Jesus quer. Na verdade, hoje iniciamos um longo percurso para celebrar a festa maior dos cristãos que é a Páscoa”, enfatizou o Bispo ao iniciar a pregação, recordando que a Quaresma é um tempo de graça.
Dom Ricci também falou a respeito da Campanha da Fraternidade, cuja abertura nacional acontece na Quarta-feira de Cinzas.
- Na faxina sempre encontramos aquilo que fica esquecido. Por isso é urgente voltar àquilo que de fato importa. O que importa é Deus, a vida, o amor, a justiça, a paz, a misericórdia. Não dá mais para gastar energia e tempo com superficialidades, com discussões inúteis. Vamos concentrar as nossas energias no bem, no amor. Por isso, temos a Campanha da Fraternidade, que nos ajuda neste percurso. A CF sempre traz um tema que mexe com a nossa sensibilidade, porque a Igreja nunca esteve alheia ao sofrimento humano. Por quê? Pois Jesus nunca foi indiferente ao sofrimento humano. Ele sempre agiu com compaixão. Ele disse: o que vocês fizerem aos outros é a mim mesmo que estão fazendo. Também disse: tive fome e me destes de comer. Por isso o tema da Campanha da Fraternidade é a fome, presente no Brasil, presente muito perto de nós, ou a fome ou a insegurança alimentar. Este é um tema que tem fundamento na Palavra de Deus – explicou.
E, prosseguindo, falou a respeito do lema da CF-2023 “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16), lembrando que não faltam iniciativas nas paróquias e comunidades de assistência e ajuda aos vulneráveis.
- Quantos projetos, quantos grupos se organizam para socorrer as pessoa, não só no tempo da pandemia, pois a Igreja sempre teve obras de caridade. Mas hoje aqui na Catedral aconteceu um fato interessante. Pe. Jorge me disse que ontem o Flávio, responsável pela Pastoral Social da Catedral, funcionário nosso que também trabalha na Cáritas Diocesana, usou as redes sociais para o bem e fez um pedido, pois estava faltando alimento para montar as cestas básicas. Qual foi a surpresa dele: o chamado foi feito ontem, hoje chegou muita coisa... Nesta Quaresma pensemos naqueles que têm fome. Agradeço como Igreja a todas as pessoas que de uma maneira ou de outra, com ofertas ou doações, se colocam a serviço da vida, de quem está com fome, doente, e procuram estender a mão, pois ali está o rosto de Jesus sofredor... Isso é Quaresma, é abrir o coração – enfatizou o Bispo.
Sobre as leituras preparadas para este dia, destacou um trecho da Profecia de Joel 2,13: “Rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus”.
- O que significa rasgar o coração? É abrir o coração, escancarar para acolher a graça de Deus, a sua misericórdia e assim acolher o próprio Deus no nosso irmão e na nossa irmã. Para rasgar o coração precisamos sair de nossa tenda, da nossa área de conforto, das nossas ideologias e interesses. Muitas vezes estamos fechados nas nossas tendas, nos nossos grupos e aí não temos um horizonte. Sem horizonte não dá para rasgar o coração, ele fica fechado. Ou saímos da tenda, olhamos para o alto e abrimos o nosso horizonte ou vamos morrer sufocados nos nossos interesses, nos nossos grupos, nas nossas ideologias.
O Epíscopo sinalizou que “Quaresma é tempo de faxina, desintoxicação e tempo de corrigir a rota, o que chamamos de conversão, mudar a maneira de pensar e agir, voltar para o Senhor. Ontem celebramos a Sagrada Face, devemos voltar para a Face de Cristo. Quem olha para o crucificado vai conseguir reconhecer Jesus no próximo, sobretudo nos pobres e vulneráveis”.
Sobre a imposição das cinzas, orientou. “Precisamos ter a consciência de que somos pó e ao pó voltaremos. Por isso vamos receber as cinzas sinal de humildade, um símbolo que marca o início de um percurso, de uma nova fase de busca, de mudança de rota, de voltar para o Senhor. Na hora da imposição das cinzas vamos dizer: convertei-vos e crede no Evangelho. Conversão e acolhimento da Palavra de Deus”.
Antes de concluir, falou sobre as três práticas quaresmais: esmola, oração e jejum, recordando que estas devem ser intensificadas na Quaresma, mas continuar após a Páscoa. Disse ainda que somos um ser relação, portanto “a oração nos faz pensar na nossa relação com Deus; o jejum, na relação conosco mesmo; e a esmola, na nossa relação com o próximo”.
Dom Luiz Antonio concluiu a pregação falando sobre a face do Senhor, recordando que olhando para a face sofredora de Cristo podemos harmonizar a nossa face.
- Vamos pedir que o Senhor possa harmonizar a nossa face, o nosso ser. Tem muita coisa em desarmonia na sociedade, em nós, muita coisa fora de sintonia com Deus... Se posso deixar um convite, é esse: possamos harmonizar a nossa vida, o nosso rosto, que sejam expressão de amor, de luz e bondade. Que o Senhor nos harmonize, nos transfigure, nos transforme, nos restaure para que possamos viver segundo a vontade Dele... Frutuoso, sereno, harmonizador e restaurador Tempo Quaresmal – desejou.
Dando continuidade à celebração procedeu-se a bênção e imposição das cinzas sobre a cabeça dos fiéis. Concelebraram os Padres Jorge Eduardo Coimbra do Almo, Vigário Geral da Diocese e Pároco da Catedral; e Raphael Costa dos Santos, Vice-reitor do Seminário Diocesano e Vigário Paroquial da Catedral. Estava presente o Diácono Adriano Gomes, da Arquidiocese de Niterói, assim como os seminaristas que retornaram neste dia às atividades no Seminário. Foram apresentados quatro novos vocacionados.
Texto e fotos: Grasiele Guimarães (Ascom da Diocese de Nova Friburgo)